28.3.07

Sobre Cocas e vulcões

A Coca gelada faz de mim um ser menos triste.
A Té realmente tem essa teoria.
A Gábe diz que Coca é o oposto de bandex.
E é mesmo.

Aos poucos, vou percebendo as dimensões de minha ilha e o quão grande ela é. Maior ainda é o mar que a cerca, gigantesco. Nela, muitos abarcam por pouco tempo, vêm tirar umas fotos ou passar as férias. Quando ficam muito, a ilha simplesmente desaparece debaixo de seus pés e os fazem cair na água.
Algumas pessoas, pelo contrário, recebem o "golden ticket" e são sempre bem-vindas na minha ilha. É engraçado que umas pegam o caminho de casa e não aparecem por bastante tempo, mas quando voltam a ilha está ainda lá, sólida.
No entanto, minha ilha tem setores. Muitos dos que tem o ticket dourado só permanecem na orla; alguns passeiam pelas cachoeiras, mas só pouquíssimos, poucos mesmo, visitam o coração da minha ilha e vêem o vulcão revolto que há escondido lá. Para estes, minha ilha não tem segredos.

Uma coisa digo a vocês, e esta é de graça e talvez sem graça: meu vulcão se acalma quando alimentado de Coca. Principalmente num dia de sol, como este.

24.3.07

O gato

Clara queria um poodle. Mas no Natal de 95, nos braços de sua mãe, estava um gato. Por exatos 52 milésimos de segundo, as paredes de sua casa ficaram verde-musgo e seu corpo mais pesado do que o de um elefante. Depois disso, abriu um sorriso e disse "adorei".
Enquanto o gato lambia seu pé, Clara pensava em coisas bonitas. Porque na verdade estava triste com aquele gato, queria um poodle, sempre quis um poodle branco. Ela pensava que na verdade não deveria merecer um poodle, ou, melhor, um poodle não a devia merecer. Pensava ainda que o gato se parecia mais com ela, que a mãe com certeza escolhera o melhor para a filha.
No verão de 96, a família de Clara foi para a praia. A menina, já apegada ao gato, insistira para que o levassem. O bicho fora aos poucos incorporado a ela; todos os dias lhe servia leite, fazia carinho e levava para passear. De coleira. Todo mundo achava estranho a mania da garota, mas ela afirmava ser mais legal assim.
As aulas de Clara recomeçaram e ela começou a perceber o quanto aquele gato a incomodava. Ele não era de todo bonito, não tinha pêlos o suficiente, só sabia pular nas coisas e miar agudo. Mas Clara ainda tinha esperanças de se adaptar.
Um dia, durante a aula de história, Carol virou-se para trás e contou a Clara que ganhara um cachorro. Naquele mesmo dia, as duas foram à casa da amiga para ver Spok, um labrador marrom-claro e bobo. Clara ficou quase a tarde inteira brincando com ele; o sol torrava-lhe inteira, mas a menina não se importava.
Ao abrir a porta de casa, Clara avistou o gato. Ele veio para junto de sua perna, mas a menina olhou-o com cara de desgosto. Naquela noite, não jantou direito.
Depois disso, o gato ficou cada vez mais mal cuidado. Clara sempre se esquecia do leite, do carinho e da coleira. Até que um dia o gato saiu de casa sem ela perceber e nunca mais voltou. Talvez tenha morrido, mas Clara chorou apenas por 52 milésimos de segundo.
Na manhã do Natal de 96 Clara acordou com algo gelado tocando seu pé. Era um poodle branco que lhe sorria com a boca aberta. A menina mal pôde acreditar.
De vez em quando ela se perguntava aonde estava o gato. Mas era um pensamento rápido, porque logo depois se lembrava de levar o poodle para passear. De coleira.
No Natal de 2006, o poodle fez dez anos. E, mesmo cheia de trabalhos da faculdade, Clara fez uma festa para ele.
Um dia desses, ela reencontrou Carol na rua. Perguntara-lhe do labrador. Havia doado para um parente. Clara pensou mal de Carol, mas percebeu que na verdade nem todo mundo gostava de cachorros como ela. Percebeu ainda que nem sempre os pais acertam na escolha. Mas não é por falta de amor que fazem isso. É por simples vontade de alegrar, mesmo que façam tristes e cansados seus filhos por algum tempo.

19.3.07

O instante

O exato momento em que você olha para o lado é o exato momento que você percebe que há mais gente em volta.
Quando uma gota de água toca o solo, um milhão de notas coloridas se espalham pelo ar, milhões de beijos enriquecem milhões de corações, muitas mortes fazem vários chorar, vidas recém-chegadas trazem a esperança de volta e você não evolui um centímetro.
Por mais que pudéssemos ver tudo o tempo todo, não conseguiríamos prever o próximo instante.
O homem traz consigo os anos passados e leva consigo um milésimo de segundo.
Somos nada mais do que poeira e resto de estrela.
Quando tudo parece intocável é quando querem enfiar o dedo no bolo.
Se o tempo escorre como areia é porque se está fazendo bom ou mau uso dele?
Em volta tem gente de todo tipo, saem umas, chegam outras e você continua parado.
Olhar o alheio é criticar o próprio.
De tudo isso, pode sair uma flor bela de origami ou uma bola feia de papel, feita para jogar no cesto.
No momento em que você ri da comédia boba é que você percebe o quão inútil é este instante. Mas muitas vezes, sem o momento inútil não haveria futuro seguro, tudo seria automático como um liquidificador.
Às vezes o que se sente é uma dor grande de medo do futuro, de raiva do presente e de ódio do passado. Mas depois você vê que não é uma bola de pêlos e que está exagerando.
E, enquanto o liquidificador gira, enquanto todos morrem e nascem, eu quero pintar o céu de cor-de-rosa. Eu quero pular bem alto e correr por cima dos telhados, quero tocar as estrelas com o indicador e quero descansar em Bora-Bora. Depois de desligar minha aurora boreal.

14.3.07

Banana Pancakes

Can't you see that it is just raining?
There ain't no need to go outside

But baby,

You hardly even notice
When I try to show you it
Song it’s meant to keep you
doing what you’re supposed to
waking up too early
Maybe we could sleep in
I’ll make you banana pancakes
Pretend like it’s the weekend now

And we could pretend it all the time
Can’t you see that it's just raining
There ain’t no need to go outside

But just maybe, hala ka ukulele
Mama made a baby
Really don’t mind the practice
cause' you’re my little lady
Lady, lady love me
cause' I love to lay you lazy
We could close the curtains
Pretend like there is no world outside

And we could pretend it all the time
Can’t you see that it’s just raining?
There ain’t no need to go outside

Ain’t no need, ain’t no need
Can’t you see? can’t you see?
Rain all day and I don’t mind

Telephone singing, ringing, it is too early
Don’t pick it up
We don’t need to
We got everything we need right here
And everything we need is enough
Just so easy
When the whole world fits inside of your arms
Do we really need to pay attention to the alarm
Wake up slow, wake up slow

But baby, you hardly even notice
When I try to show you it
Song it’s meant to keep you
doing what you’re supposed to
Waking up too early
Maybe we could sleep in
I’ll make you banana pancakes
Pretend like it’s the weekend now

And we could pretend it all the time
Can’t you see that it’s just raining
There ain’t no need to go outside

Ain’t no need, ain’t no need
Rain all day and I really really really don’t mind
Can’t you see? can’t you see?
We’ve got to wake up slow

13.3.07

Digamos assim, que o transporte público está me deixando bem irritada atualmente.
Bom, não na hora de voltar, mas na hora de ir.
É a hora em que todos os bixos, mais os veteranos, mais os quase-jubilados se espremem em poucos metros cúbicos de lata laranja (ou azul). Hum, e mais a galera do HU.

No mais, estou há muito querendo refletir sobre algo longamente aqui. Mas não consigo arranjar tempo. Às vezes parece que meu remédio anti-ansiedade não está funcionando, porque parece que tudo vai explodir.

E ainda, ando mais dura que nunca. No money. No nothing, baby.

Mas gosto de uma coisa, bastantão. Gosto daquela maloca, saudosa maloca.
Dim dim donde nóis passemo os dias feliz da nossa vida.

5.3.07

Pois é.
Não sei, às vezes está tudo muito quente e abafado. Verão, eles dizem.
Num dia como este, primeiro dia de volta à bagunça, vejo que tudo parece estar de pernas para o ar.
Acho que devia tomar as rédeas da minha vida, quem sabe fugir, pois não é o que todo mundo está fazendo?
A única coisa certa é que desta vez quero fazer acontecer. Por isso mesmo estou aqui.
É, não possuo nem metade das coisas que tenho.
Num dia quente, a cabeça parece funcionar devagar.
Os europeus tinham uma teoria de que quanto mais quente o país, menor sua produção intelectual. Fuck them.
Não preciso de neve para pensar, mas preciso de um banho, urgente.
O que mais me incomoda é essa sensação chata.
Ha, vocês nem desconfiam.
Porque deixa aberto?
Hum, tô parecendo um doido que nem eu mesmo admiro.
O que será daqui a vinte anos?

Agora, estou querendo ir para Babylon.
Comprar o que houver, au revoir ralé
Finesse s'il vous plait mon dieu je t'aime glamour
Manhattan by night
Passear de iate nos mares do pacífico sul

4.3.07

Mãe #2

Dizem que ela está velha.
Dizem que está caduca.
Que nunca está satisfeita.
Que gosta sempre de complicar.

Mas eu acho ela demais.
Acho divertida.
Esperta.
Sim, fala bobagens, mas aí está o charme.

Agradeço por você não ter ido.
E por, mesmo envolta a frases grosseiras, sorrir devagar pra mim.
E esse sorriso é inestimável.
Sem ele não saberia....
Sem ele, acho que tudo ficaria cinza.