19.3.07

O instante

O exato momento em que você olha para o lado é o exato momento que você percebe que há mais gente em volta.
Quando uma gota de água toca o solo, um milhão de notas coloridas se espalham pelo ar, milhões de beijos enriquecem milhões de corações, muitas mortes fazem vários chorar, vidas recém-chegadas trazem a esperança de volta e você não evolui um centímetro.
Por mais que pudéssemos ver tudo o tempo todo, não conseguiríamos prever o próximo instante.
O homem traz consigo os anos passados e leva consigo um milésimo de segundo.
Somos nada mais do que poeira e resto de estrela.
Quando tudo parece intocável é quando querem enfiar o dedo no bolo.
Se o tempo escorre como areia é porque se está fazendo bom ou mau uso dele?
Em volta tem gente de todo tipo, saem umas, chegam outras e você continua parado.
Olhar o alheio é criticar o próprio.
De tudo isso, pode sair uma flor bela de origami ou uma bola feia de papel, feita para jogar no cesto.
No momento em que você ri da comédia boba é que você percebe o quão inútil é este instante. Mas muitas vezes, sem o momento inútil não haveria futuro seguro, tudo seria automático como um liquidificador.
Às vezes o que se sente é uma dor grande de medo do futuro, de raiva do presente e de ódio do passado. Mas depois você vê que não é uma bola de pêlos e que está exagerando.
E, enquanto o liquidificador gira, enquanto todos morrem e nascem, eu quero pintar o céu de cor-de-rosa. Eu quero pular bem alto e correr por cima dos telhados, quero tocar as estrelas com o indicador e quero descansar em Bora-Bora. Depois de desligar minha aurora boreal.

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