26.9.09

sem palavras.

as palavras cairam todas no chão.
não as encontro.
estou sem óculos.
onde estão as palavras?
eu preciso delas!
preciso para descrever isso tudo.
mas elas estão no chão.
deixe-as lá.
quem precisa de palavras,
quando se tem o impronunciável, o indiscritível?

23.9.09

boa noite, paulo.

_ Boa noite pessoal. É isso.
Os alunos se levantam e saem da sala.
"Eu devia ter dito alguma coisa sobre Manuel Bandeira. Eles sempre gostam de ouvir sobre o porquinho da índia".
Paulo destrava seu carro, estacionado na frente da lanchonete da Dona Cleide. Trânsito. Alfa FM... ah, que delícia ouvir Alfa FM.
Chega em seu prédio, elevador, apartamento. Acende as luzes da sala. Olha ao redor.
Tudo está no lugar. Os muitos livros catalogados por sobrenome do autor nas diversas estantes vizinhas, o peso de papel - lembrança de Bonito-MS -, o porta-retrato com a foto dela... tudo está no lugar.
Ele deixa as chaves em cima da mesinha de canto, tira o paletó e coloca sobre a cadeira, senta no sofá e liga a tv. Nada a se ver.
Desliga a tv, pega um livro na estante. "O velho e bom Dostoievski". Lê umas vinte páginas, pisca mais demoradamente umas duas vezes e não pensa duas vezes: hora de dormir.
Mais um dia acaba para Paulo, que acerta o despertador para às seis da manhã, coloca o pijama e diz boa noite a si mesmo. "Boa noite, Paulo".

20.9.09

mi confesión.

parece até uma afronta, você assim nos meus sonhos, pedindo perdão.
sua boca quente na minha roçando, seu corpo quente no meu se abraçando.
mas quando acordo, lembro-me do que fez. lembro-me do que não quero para mim.
esse você inflado, esse você irado, esse você louco por qualquer droga barata.
depois você me afronta, dessa vez publicamente, olhando diretamente para mim, no meu parque, com as pessoas que tanto amei quando as registrei.
você me olha e diz: veja aqui, sua anônima tentativa para mim resultou na capa do jornal.
mas essa afronta, parece que ela é apenas para mim.
saia de frente de mim, saia de meus sonhos, não quero sua boca quente, não quero suas drogas, não quero sua loucura.
queria você anônimo, queria você pequeno, queria você rendido, queria você só para mim.

mas saia.

16.9.09

é assim que imagino vocês dois. (ou imagino nós dois, se você fosse meu).

Ele a espera para o jantar.
Ela chega às nove, como todo dia o faz.
Ele bota uma música do tim maia pra tocar.
Ela esquenta a barriga no fogão.
Ele chega por trás e dá um beijo em sua nuca.
Ela se arrepia toda e capricha no arroz.
Ele dança arrastando os pés no chão da cozinha.
Ela ri alto e se vira para dançar.
Ele esquece que o salário não cobre as contas.
Ela esquece do trânsito.
Eles dançam.
O arroz queima.
Eles não se importam.

neo.

Uma nova realidade está me esperando na esquina.
Um castelo, uma prisão, um parque de diversões.

A vida é feita de caminhos, isso eu sempre digo.
A estrada que tomei surgiu de repente e chamou: venha.

Faça sua vida, menina, era o que me diziam.
Você é importante para nós, mas nada podemos fazer.
Se quer crescer, siga seus impulsos mais secretos.

Há tanta mediocridade na vida. Amor não podem ser uma delas.
(Isso eu vi em um filme.)

3.9.09

jogados.

Desde quando sabe?
Bicicleta molhada e pato de borracha combinam bem com conhaque e abacaxi.
Comida indiana você encontra na padaria.
Cabelo jogado de lado.
Saia de casa menina, saia, vá ver o sol.
Quer saber quantos anos eu tenho? Olhe para minhas rugas. Quantos você me dá?
Nunca subestime uma tartaruga.
Pedrinha amarela de aquário. Pedrinha azul, pedrinha roxa, pedrinha suja e sem cor.
Deixa isso aí! Vem pra cá logo.
Vai perder a sessão.
Mas moço, eu não tenho pé.
Então volte para casa de butantã-usp.