23.2.07

Ouço o tica-tac do relógio. As pessoas querem saber se estamos vivos. Na verdade, vêm até aqui verificar.
A burocracia deixa a gente doido. Não se é possível fazer isso ou aquilo porque eles perderam minha foto. Ou venderam para o mercado negro de pulgas.
Um coelho ou um cachorro. Era tudo que eu queria. No entanto, não há sinal. Só aquele repetido e chato.
Da última vez que chorou, o outro disse que não entendia e foi embora. Ficou com medo de chorar e não ser entendida, mas desta vez o rapaz, não o outro, a abraçou. Seu universo clareou-se por 2 segundos até ela derrapar no chão. Mas até que foi engraçado.
Eu queria estar mais em casa, queria estar com eles. Mas eu sei como é estar e prefiro fugir. Se pelo menos houvesse menos quilômetros entre os dois...

22.2.07

historinhas

Por mais que quisesse escrever sobre aquilo, Clarice preferiu guardar para si. Abriu o diário e folheou. Não havia nada de interessante desde abril. Então contemplou a página em branco que pedia escrita e decidiu pensar no foco daquele relato.
Enquanto isso, um homem virava a esquina. Era alto e magro, nas mãos uma revista de engenharia. Olhou para o relógio e contastou o atraso. Margarida ficaria furiosa. Apressou o passo.
Do outro lado da rua, um gato observava o céu deitado de costas. Ele rolava de um lado para o outro e, cada vez que uma das patinhas tocava o solo, ele jogava o peso do corpo para o outro lado e assim balançava devagar, olhinhos semi-abertos, sombrinha semi-fresca.
Clarice precisou apenas de três palavras: um+dia+inesquecível. Sorriu e, antes de fechar o caderno, pegou um pedaço de papel onde Christian estava escrito acima de um número de telefone. A garota suspirou e pensou em não ligar. Porque ele não ligaria. Quis rasgar o diário. Mas guardou o papelzinho e fechou.
Margarida mexia a sopa como quem bate carne. Um pouco espirrou em seu rosto e quis gritar seu ódio a André. Em vez disso, limpou o líquido quente com a camisa branca. "Que se dane". A campainha tocou e era ele. Embaixo do braço, a engenharia. "Pois então estava na banca e isso era mais importante???". "Não, eu sou ruim com horários". André tentou abraçá-la, mas a mulher bufou e virou de costas.
O gato de rua abriu os olhinhos mais uma vez enquanto dançava deitado. Um cheiro de comida ao longe o fez levantar. Andou três passinhos e parou. Estava pisando em mármore geladinho. Deitou novamente.
O telefone tocou. Era ele?? "Alô, Clarice?" E ela o amou porque ele disse alô.
André sentou na poltrona da sala e decidiu que iria embora. Olhou para o quadro na parede: Búzios, 1997. Quis ficar, mas não poderia viver assim, por mais que a quisesse muito. Na cozinha, a pranto quieto, estava Margarida. Ela só queria se sentir amada nas horas em que não fosse preciso. Queria a surpresa constante, o frio na barriga. E André só lhe aparecia na hora marcada, senão atrasada, com a mesma cara, com o mesmo terno marrom.
Uma perna a dois metros despertou seus desejos felinos mais íntimos. Levantou, andou sorrateiro até seu alvo e lá encostou. A perna reagiu fortemente e o gato voou longe. Mas como havia muita sombra e muito chão geladinho, ele nem se importou.

14.2.07

pintar caras, ié.

bem-vindo à ECA, bixo. qual seu nome, bixo? posso tirar uma foto?
pois é. a garota aqui agora joga no time que ganha no Calvet.
gera uma sensação de 'i belong to this place'.
i can say this place is mine.
i know the faces.
i love how it looks like.

7.2.07

A garota cor-de-rosa beija o travesseiro e deseja sentir aquele cheiro no sapato, na escova de dentes, na televisão e no sofá.
Quando o despertador toca, ela espera aqueles olhos fechados.
No ônibus, a lembrança constante é acentuada pelo som da melodia cotidiana (especial).
O andar ela já decorou. Como movimenta os ombros e olha para baixo pensando na vida.
Sabe do sorriso, ela já é expert.
Mas a cada vez que sorri, é como se fosse novo, como naquela noite depois do cinema ou naquela manhã de fevereiro.
E quando vai embora, gosta de pegar na mão e olhar com carinho. Até o dedinho. Mas depois de dois dias de distância dos dedos ela já começa a se sentir como um pão mofado.
E se o cheiro está no sofá ou no sapato ou na tv ou na escova de dentes, ela quer o travesseiro recém-amassado no lado oposto à sua cabeça.
Ver o movimento dos ombros.
Beijar a face docemente.
E fazer qualquer coisa ao seu lado que dure entre um segundo e uma eternidade.

6.2.07

3 dias

Toca Taj Mahal e os cinco começam a dançar. Sentada num canto e pensando em sono, ela observa sem achar graça. A mão no joelho dobrado, o rosto virado de lado. É então que vê amigos e quer fazer parte deles. Levanta devagar e aos cinco se junta. De repente, tudo aquilo faz sentido. Vibra-se. Enlouquece-se. De fora, um monte de doidos. E os seis se abraçaram porque estão felizes em estarem juntos. E a música tem 10 minutos, uma disse. Tem mesmo. Perfeito, repete aí.

O sereno começa a cair e a molhar a bag. Todos estão beubos de beuja pilse. Se não de pilse, de vodka, oh palavra perfeita para os beubos. Não, vóudka, presta atenção. Um deles está psicografing e a outra está espantando os lobos. Um bando de beubo, afinal. Ela olha pra cima e se assusta. Corre, corre, porque tem gente aí!

Eles se reúnem para as fotos. Sorrisos, a câmera dispara cinco em sequência. São vinte que, juntas, mostram amizade, essas coisas que um deles quis ensinar no dia anterior. Tchau, até amanhã. Planos para mais uma no final de semana que vem. Mas não é assim, a gente sabe que não dá. Mas pode imaginar. Um dia feliz. Três dias felizes.