19.10.09

O sol quente da manhã queimava de leve suas pálpebras adormecidas. Virou para o lado da cama e esfregou os olhos com a mão. Não precisava acordar cedo, era domingo. Mas não voltou a dormir. Dois minutos depois, estava se espreguiçando e em dois segundos, de pé. O pó dançava no feixe de luz que entrava pela janela. Seus pés preguiçosos seguiram até a cozinha. Abriu a geladeira e pegou o leite. Cheirou a abertura da caixinha e depois serviu um copo. Três colheres de chocolate e tomou tudo num gole só. Foi até a janela da sala e observou a cidade que lentamente tomava ritmo. Deitou no sofá e ligou a tevê. Alguma notícia? Não, não estava lá o que procurava. Como era inútil buscar notícias, desligou a tevê. Foi para o quarto e colocou uma roupa qualquer. Foi para a sala e depois para fora, e chamou o elevador. Desceu e saiu para a rua. Adorava domingos de manhã, a cidade ficava linda em sua solidão ensolarada. Sabia que não encontraria o que procurava na rua também, mas resolveu andar. Era gostoso ver os cachorros vadios a cheirar os postes, ou as crianças e os velhos que vão pra missa. Era bom ouvir o som da cidade sem tantas buzinas. Era bom atravessar a faixa de pedestres e cruzar olhares com estranhos. Ficava imaginando a vida deles, e o que os levava para a rua àquela hora. Queria conversar com eles, saber de suas histórias, mas preferiu imaginar. Gostava de criar roteiros alheios, achava que toda vida daria um livro. Nenhuma história é desprezível, pensava. Passou pela praça com a igreja e se perguntou se entraria para ver a missa. Melhor não e continuou. Os homens placa não estavam lá, eles deviam ter família também, não nasceram de placa nos ombros. Continuou andando, em direção ao rio. Os pombos e os cachorros e o lixo e os bêbados e os ratinhos e os esquecidos. Todos com uma cor linda devido ao sol da manhã. No chão, estavam caídos inúmeros ponteirinhos de relógio. Devem ter deixado cair, mas era engraçado pensar em tantos ponteiros sem utilidade, como se o tempo tivesse parado. E parecia parado mesmo. Neste momento, percebeu que era inútil continuar, ela não encontraria o que procurava nas margens do rio. Não estava em nenhum lugar palpável, ou virtual. E então virou-se e começou sua jornada de volta.

Um comentário:

Heidi Costa disse...

As vezes quando a gente procura o que quer, mesmo sabendo que não vai encotrar, acaba achando coisa melhor ainda. Só o ato de procurar já abre um número infito de possibilidades do que se pode encontrar.