19.4.09
Dalila
As belas e esquecidas fachadas dos edifícios olham para a cidade que um dia lhes admirou. Hoje, são apenas suas grandes janelas, seus ricos detalhes encardidos e suas paredes que observam pacientemente toda a confusão de pessoas que por suas ruas passam. Numa esquina, um grupo de africanos briga verbalmente; na outra, uma reunião de gente rica, comemorando o feriado num bar chique. Não muito longe dali está Dalila. Quatorze anos, uma rosa tatuada na batata da perna esquerda, piercing no nariz e três dentes de ouro. Ao seu lado, sua irmã, onze anos, piercing na sobrancelha direita e sua prima, vinte anos. Dalila gosta de andar como se estivesse em câmera lenta. Gosta de sentir seu corpo todo reberverar a cada passo descalço que dá. Na face, toda a história de sua geração. Ela faz parte de um povo há muito esquecido e por sempre negligenciado. Dalila é uma jovem cigana. Ela odeia quando a associam com cartomantes ou feiticeiras errantes, mas sabe que é preciso assumir o papel, quando pode disso tirar algum proveito. Desde os dois pede dinheiro na rua. Hoje, esta prática é sazonal. Prefere viver do que é de graça, ou melhor, do que pode assim conseguir. (continua)
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