6.7.09

back.

Na minha família, todos os primos eram mais velhos. Quando eu tinha 6, eles tinham 15. Daí quando todos se reuniam para conversar sobre o novo disco do Biquini Cavadão ou das novas camisetas da Hering que brilhavam no escuro, eu ficava meio de canto, tentando entender alguma coisa.
Mas eu tinha um primo da minha idade, o Leandro. No Natal, era pura diversão. Um parente sempre se vestia de Papai Noel e, meia noite, ele descia as escadas da casa da minha avó paterna tocando um sininho. Depois, sentava na sala e tirava vários presentes do saco, a maioria endereçados aos caçulas, o Leandro e eu.
A gente acreditava e tudo. Até que um dia, eu vi meu tio subindo as escadas para se trocar e corri pro Leandro: "O Papai Noel é o tio Ciro!". Mesmo assim, curtíamos a brincadeira, até porque era óbvio que o verdadeiro Papai Noel existia. Tanto que outro passatempo era ficar no jardim olhando pro céu e buscando o trenó dele.

Ontem eu encontrei o Leandro na festa junina da família do meu pai. A gente pouco se vê, então foi como voltar uns 15 anos no tempo. Ele citou quando descobrimos a verdade por trás do Papai Noel, mas não lembrava de ficar procurando o trenó no céu. "Nossa, você ativou uma parte da minha memória que eu não usava há muito tempo!", disse. "É, estamos velhos" complementei.

Entre tantos problemas adultos, disputas, depressão, brigas e rancor que rodeiam minha visão de família e de terra natal, esta conversa com meu primo foi um momento mágico, em que eu não tinha mais 23 anos, mas 6, e eu acabara de descobrir que o Papai Noel que descia as escadas era meu tio e então corria para o jardim da casa da minha vó olhar o céu. De repente, tudo a minha volta era quente e colorido, a Xuxa cantava na tevê e meus primos conversavam sobre New Kids on the Block. Minha mãe abraçava meu pai e dava bronca nos meus irmãos por estarem comendo antes da hora. Minha avó passava por mim e sorria carinhosamente, perguntando se eu estava ansiosa. E eu rodava minha saia de lambada, animada pelas próximas horas.
Era Natal, e quem se preocupava com o futuro? Nós estávamos imersos para sempre naquela redoma de felicidade e ninguém ousaria pensar que algo um dia seria diferente.

2 comentários:

Oito disse...

Será que as coisas estão diferentes, freckles? Talvez a gente continue descobrindo que os papais noéis que descem das nossas escadas são falsos, mas continuamos olhando para as estrelas na expectativa de ver O De Verdade.
Eu acredito mesmo é em Mamãe Noel.

J. J disse...

Eu estava pensando exatamente sobre isso, uns tempos atrás... O dia em que descobri que o papai noel não existia... Até escrevi um conto sobre isso no meu blog, chama-se "o soldadinho". É, talvez essa seja a primeira utopia que vemos ruir na vida.
Tirando a parte triste: "New Kids on the block e saia de lambada foi foda, hehehe.
Beijos