10.10.07

Eu penso em várias coisas desenfreadamente. Quando penso em escrever, no entanto, há uma barreira de fluxo, as palavras vêm cuspidas, vomitadas e depois, vetadas. O livro que estou lendo, Orgulho e Preconceito, tem um trecho sobre isso, a cerca de uma conversa entre Mr. Darcy e Mr. Bingley:

-Minhas idéias afluem com tal rapidez que não me dão tempo para as exprimir, pelo que minhas cartas por vezes não transmitem nenhuma idéia a meus correspondentes.

É assim que me sinto diante do ato de escrever, na maioria das vezes. Isso ocorre também porque quero falar de muitas coisas ao mesmo tempo e no fim, não escrevo sobre nada, ou sobre vários assuntos superficialmente.

Mudando de foco, é comum sentir uma desconexão com o mundo que me cerca. Recentemente, tenho vivenciado experiências que me deixam à deriva do meu próprio corpo, e é como se algo estivesse errado. É difícil explicar este sentimento, ele aflora em momentos banais, como lavar a roupa ou no meio de uma aula. Parece que, por alguns momentos, situo-me fora da matrix e percebo o ambiente como aqueles que o regem, Deus, ou o quer que seja. Pergunto-me: por que tudo isso? por que publicitária, diretora de arte, filha de fulana, residente de tal bairro, sonhadora fútil, incorruptível, amigos x, y e z, falta de amigos, ansiedade, sentimento de superioridade? Qual o propósito de tudo isso?

Por várias vezes escrevi minha situação atual, sem ECA Jr. para preencher minhas tardes e o consequente vazio que esta falta provém. Vivo como se numa onda flutuante, em meu bote, em que as tormentas localizam-se exclusivamente dentro da minha cabeça. Os desafios agora constituem-se de terminar um livro, ver os 100 filmes da bravo ou criar peças. Mas quando rabisco umas linhas tortas no papel, percebo minha deficiência e também a incapacidade de fazer algo a respeito, eu só desenho para aliviar as aulas chatas de cada dia.

Sobre as relações pessoais, presencio amizades alheias que me incomodam ou (não "e") me invejam. As mensagens do orkut do vizinho são mais verdes, as outras que ele apaga mas eu vejo excluem de mim uma participação, sim, há um ódio envolvido, mas haveria tanto ódio se houvesse tanto segredo?
Por fim, concluo: de 10% falei aqui. Tudo isso é muito maior. Se todas as pessoas revelassem suas paranóias existenciais, talvez este seria um mundo melhor. Se mais pessoas comentassem o que leram aqui sem frases feitas, esse seria um mundo melhor.

A discussão está morta sob a bandeira da modernidade.

Um comentário:

Anônimo disse...

Como pediste... Sem frases feitas... e paranóias
Orgulho e preconceito - Foda! As vezes me sinto um nobre falido a procura de algum burguês que me salve de algo que não sei. Por outras me sinto um Mr. Darcy, incorruptível ao mundo, mas que ao primeiro toque de mãos, derrubar-se-ia toda minha segurança.
As vezes quero escrever, mas não dá tempo, em alguns cochilos no ônibus, um roteiro, uma epifania... ou as vezes ao abrir os olhos.
Predio administrativo da faculdade ocupado, dor nas costas, sono, por dormir mal em algumas almofadas.
Penso em desistir de tudo, ou pelo menos de algumas coisas, mas não dá. Não agora.
Um beijo e mande notícias, como está você, seus pai, sua mãe, seus irmãos, sua vó?