28.7.10

o despejo.

O primeiro sinal de que alguma coisa estava errada surgiu quando o adesivo de bonequinha, que simbolizava aquele lar conjunto, começou a se descolar suavemente da porta da sala. No dia em que receberam a ordem de despejo, encontraram o pequeno pedaço de papel agora sem cola ao lado da carta que dizia: vocês precisam sair.
Durante aquele mês, tudo começara a pifar. A lâmpada do quarto, o chuveiro, o telefone. Era como se todos já soubessem do abandono futuro e, em silêncio, protestassem contra a desocupação.
O ar dentro do apartamento estivera parado desde o dia em que souberam. E ainda não voltou a se movimentar. A incerteza do novo lar agoniza cada célula dos móveis, da televisão, das pessoas que lá habitam, que lá habitaram, que lá hão de habitar.

10.6.10

somewhere,

Precisei de um episódio de Glee para querer voltar a escrever.
Na verdade foi mais um 'Over the Rainbow' no final, que me fez lembrar de 3 anos atrás, uma sala cheia de gente, dois lados, um lado que fala, um lado que escuta, um lado que chora, um lado que não entende. Não sei se um dia o lado que não entendia passou a entender, mas o lado que chorava agora está tão cheio de tarefas de gente grande que nem se lembra ao certo o que foi aquela noite.
Eu sou uma dessas pessoas que cresceram demais em pouco tempo e que parecem viver além dos sentimentos e das sensações. Como se ao furar meu dedo com a agulha eu não sinta nada, mesmo que o sangue não pare de pingar. Acho que ouvir esta música me fez sair do limbo da eternidade e a voltar a ser humana. Como se despertasse de um sono sem sonhos, fazendo com que eu abrisse os olhos para dentro de mim mesma.
Sei, parece confuso. Mas não é para ninguém entender.
Eu estou à espera mas estou correndo.
Eu corro mas não sei para onde vou.
Espero que depois do arco-íris tenha um lugar.
Um lugar para descansar.
Um lugar onde eu não mais precise esperar.

more than you can imagine.

Somewhere over the rainbow
Way up high
In the land that I heard of
Once, once in a lullaby

Somewhere over the rainbow
Skies are blue
And the dreams that you dare you dream
Really do come true

Someday I'll wish upon a star
And wake up where the clouds
Are far behind me
Where troubles melt like lemon drops
Away above the chimney tops that's where you'll find me

4.4.10

back.

Já fazia tanto tempo que eu nem me lembrava do último post.
O tempo está voando movido à antimatéria e parece que a velocidade trucida todo e qualquer pensamento ou filosofia.
Mas é uma coisa louca, deixar de registrar em qualquer pedaço de papel ou teclado de computador a torrente de efêmeros pensamentos. É preciso desabafar alguma hora dessas, ou a gente explode.
Não mudei. Sou a mesma, quem sabe um pouco mais cautelosa e um pouco menos tolerante no quesito "interrogatório pós post". E, se parar pra pensar, faz parte da cautela não querer responder à perguntas que não importam a mais ninguém além de mim. Talvez, por isso também, evitei escrever aqui.

...

Se antes eu sentia que todos os laços que me envolviam estavam por perto, coesos e "controláveis", agora eu vivo na incerteza e fragilidade de todos esses laços, apenas na esperança de que um dia se reúnam de novo. E cada laço que se vai é um abraço a menos, um calor a menos... e a cada dia que passa faz mais frio... Os laços estão por aí, mas tão longe... a continentes de distância (e, mesmo se a distância é de apenas alguns metros, só a união dos laços traz a plenitude perdida).
No momento, em outro campo, tive que jogar todos os meus livros mentais de auto-ajuda fora, ou melhor, toda a mitologia e misticismo por trás de relacionamentos amorosos. Parece que comecei do zero. Isto é ser adulta? Ou humana?
Quantas dúvidas, na mente de quem lê e quem escreve, não? Pois é, ninguém disse que era fácil. Se fosse, pra quê viver? A surpresa, o inesperado, isso é que dá toda a graça. Por mais que as situações sejam parecidas, nunca é igual, primeiro porque os fatores externos variam... depois porque a experiência acumulada muda o comportamento, nem que seja um pouquinho.

É isso aí, living and learning...

... and very proud of it.

7.2.10

"Oi pai, tudo bem?"
"Tudo, eu que pergunto, não ligou a semana toda"
"Não? Sério?"
"Sério"
"Não percebi, o tempo passou muito rápido"

16.1.10

tomorrow is just an illusion we believe

Já me acostumei a dizer adeus.
Disse tantas vezes, para você e para mim mesma.
Já me convenci de que não pode acontecer.
Mas nunca consegui te convencer de que pode dar certo.
Vou conseguir superar.
Eu já chorei por tantos outros. Até mais do que agora.
Com o tempo, a gente sofre mais intensamente mas por menos tempo.
É um caminho conhecido. É um desperdício.
É bom se agarrar a algo maior.
A um futuro deslumbrante.
À ideia de que tudo será melhor. Diferente, pelo menos.
Onde não existam laços.
Onde só exista eu.
Confortável comigo mesma.
Sozinha. Feliz.