28.10.08

A tempestade.

Era uma vez um capitão. Ele era daqueles capitães antigos, barbona, tapa olho e perna de pau.
Ele gostava de seu navio. Gostava de águas tranquilas. Gostava de navegar.
Um dia, houve uma grande tempestade, na verdade, a maior tempestade de todos os tempos. Furacões, ventanias, ondas gigantes. E foi assim que o navio do capitão foi jogado sem dó nem piedade para cima, rodopiando, rodopiando, rodopiando. Ele se agarrou ao mastro com uma força sobrenatural e tinha certeza absoluta de que iria morrer.
Mas uma coisa incrível aconteceu. Até hoje, muitos duvidam de que seja verdade, mas dou meu voto de confiança ao relato do capitão. O navio, que tinha proa e popa compridas, ficou pendurado por elas no meio de duas rochas gigantescas, como aquelas pontes que a gente vê em filmes.
O capitão demorou um tempo para voltar a si, mas quando o fez, percebeu que metade de sua tripulação havia sucumbido e a outra que restara estava moribunda. Havia estragos irreparáveis em toda a embarcação e ele mesmo não se sentia muito bem. Quando percebeu que estava a muitos metros do solo e pendurado de forma tão perigosa que poderia cair a qualquer momento, ele se desesperou. Por um lado, era fácil sair do navio pela popa e alcançar a rocha, mas por outro, ele queria por todas as suas forças voltar para o mar com seu navio intacto, sua tripulação forte e suas águas tranquilas de sempre. Ele sabia que não era possível.
O barco estava prestes a cair e ele não sabia como seria a partir de então. Ele olhava carinhosamente para cada detalhe de madeira polida, cada ornamento ou até para cada partezinha sem graça e desimportante. Ele as amava como um amante e nunca as deixaria partir. Ele não queria outro navio. Ele sabia que poderia ser o capitão de outros navios ou abandonar o mar de vez. De qualquer forma, seria apenas metade homem e metade feliz nos dois casos.
Cada movimento era arriscado. Um passo em falso e o barco encontraria seu destino. E seu destino era o destino de seu capitão.
"Vou recontruindo aos poucos" e soltou o navio das rochas, voltando ao mar com um navio em frangalhos, mas cheio de esperança.

26.10.08

Hoje foi um dia bom. Para mim, é o suficiente.

Sinto-me uma pessoa melhor.

23.10.08

resumo rápido, básico, normal

Qual o grande lance por trás do sete? Seria um número sagrado, para o qual antigamente as pessoas matavam criancinhas em rituais?
A perfeição parece com medo de suas expectativas falsas. Ela se esconde por trás dos olhos fundos de quem já cansou de chorar. Ela é covarde e nos faz pensar que o mundo não presta, que somos uns bostas e que nossa alegria está com os dias contados.
Perfeição - a decifre ou seja devorado.

Não seria a vida um daqueles jogos do Sonic que você nunca consegue terminar? Bem naquela fase no ar, que você vive caindo dos bloquinhos deslizantes. Parece que o jogo foi programado para você nunca ganhar mesmo e, por mais que você já tenha todas as esmeraldas, você se sente um fracassado.

Há uma coisa que nunca vou ter na vida, e é bom começar me acostumando: controle. Eu sempre quero saber de tudo para poder prever, entender e controlar minha própria ansiedade. Não importa quantas miligramas de remédio eu tome, não há remédio que me dê um poder que só os deuses e as operadoras de telemarketing têm. Nada está em minhas mãos, eu não tenho o controle de absolutamente nada.

E, mais uma vez, me vejo na mesma situação de um ano atrás. No money, no hope, no family, no nothing. O que resolveria isso? Uma árvore de dinheiro, uma casa na praia com dois cachorros e o amor, Natal na casa da vó Ruth e recadinhos na geladeira, respectivamente.

Pelo menos tive duas semanas de ilusão completa num lugar ilusório com caramujos e cocô de cachorro. Pego a fotografia mais bonita daquele dia e colo na minha agenda dizendo: não esquecer de voltar um dia com mais calma, talvez para ficar. As flores amarelinhas na rua da eca e as folhas do russel sq. já valem como consolação.

21.10.08

Eu devia estar fazendo tantas outras coisas agora.
Devia ter feito tantas outras coisas ontem.
Devo fazer tantas outras coisas amanhã.

Mas no fim faço sempre a mesma coisa.

14.10.08

london

londres
as rainhas de pedra te olham como se estivessem vigiando seu legado
os moderninhos moradores adoram misturar todas as roupas do guarda roupa de qualquer jeito
a cada duas pessoas que voce ouve falando ingles, ha uma falando qualquer outra lingua
as senhoras tem o nariz empinado
ha muitos indianos
a comida eh cara e horrivel
alias, tudo eh caro
liverpool street nao eh a liverpool dos beatles
vista de cima, tem um campo de futebol brilhando verdinho a cada duas quadras
eles realmente gostam de futebol

5.10.08

ireland #2

sol.
trem.
bray.
greystones.
wonderful.

4.10.08

ireland #1

11 horas ate amsterdam. nascer do sol a 11km de altitude ao lado de marraquesh.
mais 1 ate dublin.
minha mae ronca no aeroporto.
o cara da imigracao elogia meu ingles.
victor me recebe.
aqui e lindo.
aqui faz muito frio.
aqui e primeiro mundo.