O que não muda. Eu não mudo.
Eu sou sempre o centro.
Sou o centro de toda e qualquer alienação.
A protagonista do meu filme.
Não há continuação.
Você pode assistir só uma vez.
Mas em vários tempos.
Eu não restrinjo espectadores.
Venha ver a maravilha que é minha vida.
Sente, pegue uma pipoca e seu óculos 3D.
Você vai se divertir.
Você pode até interagir.
Ao final da sessão, garanto que levará uma lição para casa.
É assim que funciona.
Você assiste meu filme e aprende muito.
Depois conta para os amiguinhos o que viu.
E todos concordam que com certeza é uma grande explicação.
E sua vida continua.
E a minha também.
Você aplicando o que aprendeu comigo.
E eu em alguma prateleira empoeirada, ao lado de Titanic e Scarface.
31.5.09
26.5.09
Dalila #4
Para Dalila, a leitura de mão não era um dom. Era um sustento. Todas as mulheres de seu povo praticavam esta arte, que teve início em tempos esquecidos, quando, rejeitados pela sociedade e taxados como místicos, os ciganos começaram a tirar proveito da aura mágica que os cercava e difundiram a adivinhação como especialidade da casa.
Não era tão difícil. Era tudo uma questão de decorar quais linhas significam o quê e dizer palavras que agradem. A pessoa tem uma linha do coração comprida e bem marcada, mas a da vida fraca e apagada? Oh, você terá um grande amor em breve. É tudo uma questão de perspectiva. Ninguém que lê a própria sorte espera receber más notícias.
A mãe de Dalila sempre dizia que antigamente era mais fácil conseguir clientes. Hoje em dia, as pessoas passam apressadas, não confiam em ninguém e muito menos acreditam em papo de vidente. Aliás, a falta de clientela os obriga a fazer o que deles é esperado: migrar de cidade em cidade, sem criar raízes por onde passam e sem deixar rastros de sua existência.
Aquele era um típico dia de verão. Dalila estava longe de seu trailer quando começou a trovejar. Com os primeiros pingos de chuva tocando o solo quente, a garota fugiu para debaixo do toldo de uma loja fechada. Entediada, começou a cantarolar uma melodia inventada e a brincar com seus chinelos. Dez minutos de chuva torrencial e apareceu um homem engravatado, com uma pasta em cima da cabeça, correndo para se refugiar onde Dalila estava. Ele sacudiu o paletó, passou a mão por cima do couro da pasta e verificou as horas em seu relógio. Quando se deu conta da presença da menina, limitou-se a esboçar um meio-sorriso sem graça e a dizer: “que chuva, hein?”. A menina não respondeu. Cinco minutos depois e, sem sinal de melhora no tempo, Dalila disse: “moço, quer que eu leia a sua sorte?”. O rapaz, distraído até então, deu um pulo e perguntou: “oi?”. Ela repetiu a proposta e ele disse: “hum, ok, pode ser”. “É um real”, alertou a menina. Ele concordou e Dalila pediu para que ele estendesse a mão esquerda. O rapaz assim o fez. Pavor. Dalila percebeu horrorizada que o homem não tinha linhas na palma da mão. “Deixa eu ver a outra, moço”. Nada. Nenhuma linha. “Moço, você não tem linhas nas mãos”. “Não? E agora, isso é bom ou ruim?”. “Não sei!”. Silêncio. O rapaz examinou as palmas das mãos e, perplexo, questionou o que havia de errado com ele. A menina olhava assustada para a chuva. “Quê que eu tenho de errado?” perguntou o rapaz. Silêncio. “Moço,” disse ela finalmente “acho que você não tem linhas porque o seu destino não tá escrito”. “Isso é mau?” perguntou ele. “Não. Acho que na verdade, moço, acho que na verdade você tá livre. Não pergunta porquê. Eu não sei. Mas acho que você tá livre”.
A chuva começou a cessar. O homem, sem dizer nada, deu um real para Dalila, que agradeceu. Ele partiu, dez quilos mais pesado do que antes, mas mais leve do que uma pena para o resto da vida. Dalila tentou explicar mais tarde para sua família o que aconteceu na rua. Ninguém acreditou. Depois de um tempo, nem ela mais sabia se tinha vivido aquilo ou não, ou se ela estava precisando de óculos. “Um homem sem destino,” pensava ela “não há sorte maior que essa”.
Não era tão difícil. Era tudo uma questão de decorar quais linhas significam o quê e dizer palavras que agradem. A pessoa tem uma linha do coração comprida e bem marcada, mas a da vida fraca e apagada? Oh, você terá um grande amor em breve. É tudo uma questão de perspectiva. Ninguém que lê a própria sorte espera receber más notícias.
A mãe de Dalila sempre dizia que antigamente era mais fácil conseguir clientes. Hoje em dia, as pessoas passam apressadas, não confiam em ninguém e muito menos acreditam em papo de vidente. Aliás, a falta de clientela os obriga a fazer o que deles é esperado: migrar de cidade em cidade, sem criar raízes por onde passam e sem deixar rastros de sua existência.
Aquele era um típico dia de verão. Dalila estava longe de seu trailer quando começou a trovejar. Com os primeiros pingos de chuva tocando o solo quente, a garota fugiu para debaixo do toldo de uma loja fechada. Entediada, começou a cantarolar uma melodia inventada e a brincar com seus chinelos. Dez minutos de chuva torrencial e apareceu um homem engravatado, com uma pasta em cima da cabeça, correndo para se refugiar onde Dalila estava. Ele sacudiu o paletó, passou a mão por cima do couro da pasta e verificou as horas em seu relógio. Quando se deu conta da presença da menina, limitou-se a esboçar um meio-sorriso sem graça e a dizer: “que chuva, hein?”. A menina não respondeu. Cinco minutos depois e, sem sinal de melhora no tempo, Dalila disse: “moço, quer que eu leia a sua sorte?”. O rapaz, distraído até então, deu um pulo e perguntou: “oi?”. Ela repetiu a proposta e ele disse: “hum, ok, pode ser”. “É um real”, alertou a menina. Ele concordou e Dalila pediu para que ele estendesse a mão esquerda. O rapaz assim o fez. Pavor. Dalila percebeu horrorizada que o homem não tinha linhas na palma da mão. “Deixa eu ver a outra, moço”. Nada. Nenhuma linha. “Moço, você não tem linhas nas mãos”. “Não? E agora, isso é bom ou ruim?”. “Não sei!”. Silêncio. O rapaz examinou as palmas das mãos e, perplexo, questionou o que havia de errado com ele. A menina olhava assustada para a chuva. “Quê que eu tenho de errado?” perguntou o rapaz. Silêncio. “Moço,” disse ela finalmente “acho que você não tem linhas porque o seu destino não tá escrito”. “Isso é mau?” perguntou ele. “Não. Acho que na verdade, moço, acho que na verdade você tá livre. Não pergunta porquê. Eu não sei. Mas acho que você tá livre”.
A chuva começou a cessar. O homem, sem dizer nada, deu um real para Dalila, que agradeceu. Ele partiu, dez quilos mais pesado do que antes, mas mais leve do que uma pena para o resto da vida. Dalila tentou explicar mais tarde para sua família o que aconteceu na rua. Ninguém acreditou. Depois de um tempo, nem ela mais sabia se tinha vivido aquilo ou não, ou se ela estava precisando de óculos. “Um homem sem destino,” pensava ela “não há sorte maior que essa”.
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duas velhinhas.
Dirce e Ruth estão sentadas no trem que margeia o rio Pinheiros.
- Estação Ceasa -
"Meu neto conseguiu um emprego na prefeitura."
(pausa)
"É? Ai que bom."
(pausa)
(pausa)
-Estação Villa Lobos -
"Olha essa goiabeira."
(pausa)
"Lá em casa eu tenho uma que dá muita goiaba."
(pausa)
"Às vezes, tem tanta que quase toca o chão."
(pausa)
- Estação Cidade Universitária -
"Mas e a Mirna?"
(pausa)
"A Mirna se divorciou, você não sabia?"
"Mesmo? Que coisa."
(pausa)
"É."
- Estação Pinheiros -
"Ouvi dizer que o quilo do tomate ficou mais caro."
(pausa)
(pausa)
(pausa)
"Vou indo Dirce. Bom conversar com você."
"Com você também, Ruth."
- Estação Hebraica-Rebouças -
- Estação Ceasa -
"Meu neto conseguiu um emprego na prefeitura."
(pausa)
"É? Ai que bom."
(pausa)
(pausa)
-Estação Villa Lobos -
"Olha essa goiabeira."
(pausa)
"Lá em casa eu tenho uma que dá muita goiaba."
(pausa)
"Às vezes, tem tanta que quase toca o chão."
(pausa)
- Estação Cidade Universitária -
"Mas e a Mirna?"
(pausa)
"A Mirna se divorciou, você não sabia?"
"Mesmo? Que coisa."
(pausa)
"É."
- Estação Pinheiros -
"Ouvi dizer que o quilo do tomate ficou mais caro."
(pausa)
(pausa)
(pausa)
"Vou indo Dirce. Bom conversar com você."
"Com você também, Ruth."
- Estação Hebraica-Rebouças -
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causos.
23.5.09
charming.
De repente, o príncipe encantado cai de seu cavalo branco, se levanta e vai amarrar os cadarços do tênis da princesa.
A princesa admirada pergunta se a dor da queda foi suportável.
Suportável, ele diz, porém dor. Dor, ele diz, porém necessária.
Agora que sua dor se transformou, diz ela, vamos dar uma volta?
Sim, diz ele, mas espero que você não pense que sou um príncipe deselegante ou desequilibrado.
Não pensarei, diz ela. Contanto que você não desista da nossa volta.
A princesa admirada pergunta se a dor da queda foi suportável.
Suportável, ele diz, porém dor. Dor, ele diz, porém necessária.
Agora que sua dor se transformou, diz ela, vamos dar uma volta?
Sim, diz ele, mas espero que você não pense que sou um príncipe deselegante ou desequilibrado.
Não pensarei, diz ela. Contanto que você não desista da nossa volta.
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infinito particular
21.5.09
delirium.
Uma girafa chega no balcão do hospital e pede.
“Tio, me vê dez reais em bala de iogurte?”
O macaco gira lentamente o baleiro.
“Dez reais, menino? Vou ter que abrir um pacote. Você não quer um pacote fechado?”
A girafa hesita.
“Na verdade, percebemos, cada vez mais, que o entendimento das metas propostas facilita a criação das posturas dos órgãos dirigentes com relação às suas atribuições. Não obstante, a expansão dos mercados mundiais aponta para a melhoria das novas proposições.”
O macaco acena com a cabeça.
“Mas sabe uma coisa que eu nunca entendi? Pra que serve aquele lápis de cor branco?”
“Eu gosto de tinta guache”, responde a girafa.
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19.5.09
Vai fermosa, e não segura.
Eu só queria algo sério e que fizesse sentido.
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17.5.09
diva.
Carine Corelli é a rainha dos palcos. Com sessenta anos de carreira, já atuou em quase todos os clássicos do teatro mundial. Sempre adorada, flores enfeitam seu camarim. Críticos a consideram a lenda viva do drama, isso porque ficou famosa ao interpretar personagens sofridas, muitas vezes tão carregadas de sentimento que o público chorava copiosamente, seja face à pobre mãe que perdera seu filho na guerra, seja face à triste amante enganada pelo vil namorado.
Frágeis mãos pincelam levemente a bochecha cândida e enrugada e, com carinho, pintam seus lábios de vermelho cereja. Mãos que completam setenta e cinco anos esta noite, e que receberão grande festa depois que o espetáculo terminar.
Desta vez, Carine será ela mesma no palco. O texto sobre sua vida, escrito por seu melhor amigo e diretor, Henri, é aguardado por todos os que lotam a casa. A imprensa está em peso na estreia, assim como gente famosa, amigos e fãs da atriz. Eles se perguntam o que será revelado naquelas linhas, e, principalmente, se seus corações estarão prontos para o que há por vir.
Soa o terceiro sinal. Silêncio.
Corelli entra em cena. É ovacionada. O monólogo começa. Vinte minutos depois, nada de muito excepcional ou chocante. A atriz representa momentos de sua infância pobre no subúrbio de Paris, seu primeiro namorado, seus desejos e anseios. Ouve-se um bocejo no fundo da plateia. Envergonhados, muitos espectadores baixam suas cabeças ou olham repreensivos em busca do grande atrevido.
Final do último ato, a atriz declara: estou morrendo. Em seguida, leva a mão esquerda ao peito e exprime uma feição de dor. A plateia emudece. Finalmente, o grande momento da rainha. Ninguém ousa piscar ou desviar os olhos do palco. Corine cai de joelhos no tablado. O som da queda acentua a emoção. Ainda com a mão no peito, a atriz repete: estou morrendo. Um grito seco foge de sua boca e atravessa todas as almas ali presentes. Carine cai completamente na madeira dura e empoeirada. Ouvem-se soluços. Um segundo depois, irrompe uma salva esmagadora de aplausos e todos se levantam. Bravo! Bravo! Flores são arremessadas ao palco. Por cinco minutos, há êxtase geral. Dez minutos se passam e Carine não se levantou ainda. Nem mesmo se moveu.
O autor então aparece correndo e manda fechar as cortinas. Ele não diz nada, mas sabe que há algo errado. Não era aquele o final que escrevera para a peça. Pede para todos se afastarem e fica muito nervoso ao ver que a cortina ainda está aberta.
Ele toca delidadamente a face de Carine, rígida e fria. Lágrimas escorrem de seu rosto e mancham o blush da rainha dos palcos, morta.
Ninguém ousa pronunciar uma palavra. E, mesmo nos jornais, mesmo na tevê ou na internet, ninguém fala da morte de Carine. É como se o mundo todo tivesse parado o tempo e prendido a respiração, ainda esperando ansiosamente que a majestosa dama se levante do tablado e, gloriosa, termine seu último e mais ousado ato.
Frágeis mãos pincelam levemente a bochecha cândida e enrugada e, com carinho, pintam seus lábios de vermelho cereja. Mãos que completam setenta e cinco anos esta noite, e que receberão grande festa depois que o espetáculo terminar.
Desta vez, Carine será ela mesma no palco. O texto sobre sua vida, escrito por seu melhor amigo e diretor, Henri, é aguardado por todos os que lotam a casa. A imprensa está em peso na estreia, assim como gente famosa, amigos e fãs da atriz. Eles se perguntam o que será revelado naquelas linhas, e, principalmente, se seus corações estarão prontos para o que há por vir.
Soa o terceiro sinal. Silêncio.
Corelli entra em cena. É ovacionada. O monólogo começa. Vinte minutos depois, nada de muito excepcional ou chocante. A atriz representa momentos de sua infância pobre no subúrbio de Paris, seu primeiro namorado, seus desejos e anseios. Ouve-se um bocejo no fundo da plateia. Envergonhados, muitos espectadores baixam suas cabeças ou olham repreensivos em busca do grande atrevido.
Final do último ato, a atriz declara: estou morrendo. Em seguida, leva a mão esquerda ao peito e exprime uma feição de dor. A plateia emudece. Finalmente, o grande momento da rainha. Ninguém ousa piscar ou desviar os olhos do palco. Corine cai de joelhos no tablado. O som da queda acentua a emoção. Ainda com a mão no peito, a atriz repete: estou morrendo. Um grito seco foge de sua boca e atravessa todas as almas ali presentes. Carine cai completamente na madeira dura e empoeirada. Ouvem-se soluços. Um segundo depois, irrompe uma salva esmagadora de aplausos e todos se levantam. Bravo! Bravo! Flores são arremessadas ao palco. Por cinco minutos, há êxtase geral. Dez minutos se passam e Carine não se levantou ainda. Nem mesmo se moveu.
O autor então aparece correndo e manda fechar as cortinas. Ele não diz nada, mas sabe que há algo errado. Não era aquele o final que escrevera para a peça. Pede para todos se afastarem e fica muito nervoso ao ver que a cortina ainda está aberta.
Ele toca delidadamente a face de Carine, rígida e fria. Lágrimas escorrem de seu rosto e mancham o blush da rainha dos palcos, morta.
Ninguém ousa pronunciar uma palavra. E, mesmo nos jornais, mesmo na tevê ou na internet, ninguém fala da morte de Carine. É como se o mundo todo tivesse parado o tempo e prendido a respiração, ainda esperando ansiosamente que a majestosa dama se levante do tablado e, gloriosa, termine seu último e mais ousado ato.
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12.5.09
le mariage.
As flores estão atrasadas.
O chefe do buffet olha no relógio a cada dois minutos.
Uma rajada de vento faz o toldo levantar levemente.
Ouvem-se risadas ao fundo.
As flores chegam.
Lírios, rosas, tulipas.
Quem é responsável pelo gelo? O gelo chegou! Edna!
Prato, talheres, guardanapo, prato, talheres, guardanapo, prato, talheres...
...
As mãos dele estão suando.
Nos bancos a sua frente, olhos felizes a observar.
Reconhece sua tia, sua avó dá um tchauzinho debaixo de um chapéu old-fashioned azul turquesa.
Há um alvoroço logo ali, e a marcha começa a tocar.
As penas da noiva estão lindas.
O bico refinadamente decorado.
É a pata mais fantástica que já vira na vida.
O rabinho do noivo balança de alegria.
Tem vontade de uivar, de pular na relva e correr atrás de carros.
...
Sim.
Sim.
A noiva quase chora com o geladinho do nariz dele roçando em seus olhinhos fechados.
O chefe do buffet olha no relógio a cada dois minutos.
Uma rajada de vento faz o toldo levantar levemente.
Ouvem-se risadas ao fundo.
As flores chegam.
Lírios, rosas, tulipas.
Quem é responsável pelo gelo? O gelo chegou! Edna!
Prato, talheres, guardanapo, prato, talheres, guardanapo, prato, talheres...
...
As mãos dele estão suando.
Nos bancos a sua frente, olhos felizes a observar.
Reconhece sua tia, sua avó dá um tchauzinho debaixo de um chapéu old-fashioned azul turquesa.
Há um alvoroço logo ali, e a marcha começa a tocar.
As penas da noiva estão lindas.
O bico refinadamente decorado.
É a pata mais fantástica que já vira na vida.
O rabinho do noivo balança de alegria.
Tem vontade de uivar, de pular na relva e correr atrás de carros.
...
Sim.
Sim.
A noiva quase chora com o geladinho do nariz dele roçando em seus olhinhos fechados.
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causos.,
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8.5.09
Dalila #3
Ele era alto, magro, cabelos castanhos. Cachos.
Morava numa casa amarela, com um portão cinza e janelinhas brancas.
Tinha um cachorro marrom.
Gostava de roupas bonitas, calça jeans e camisa pólo.
Andava de um jeito engraçado.
Ele era bem bonito.
Dalila não sabia seu nome. Pouco sabia do rapaz que observava todas as manhãs, saindo de casa atrasado, perdido em meio a seus próprios pensamentos.
Ela se sentava do outro lado da rua, seu vestido um pouco mais alinhado que de costume, até tentava pentear o cabelo com as mãos quando ele passava.
E ele só passava. E ela só olhava.
E ele era um rapaz diferente. Dalila não sabia por que se sentia tão atraída.
Um dia ela resolveu atravessar a rua.
Como sempre, ele apareceu apressado, fez carinho no cachorro, procurou no molho de chaves a correta e fechou o portão.
Dalila, num impulso, resolveu arriscar. Aproximou-se do rapaz e disse olá.
Ele virou o rosto para a menina e disse: Desculpa, não tenho nada.
Ele foi embora. Ela chorou.
Morava numa casa amarela, com um portão cinza e janelinhas brancas.
Tinha um cachorro marrom.
Gostava de roupas bonitas, calça jeans e camisa pólo.
Andava de um jeito engraçado.
Ele era bem bonito.
Dalila não sabia seu nome. Pouco sabia do rapaz que observava todas as manhãs, saindo de casa atrasado, perdido em meio a seus próprios pensamentos.
Ela se sentava do outro lado da rua, seu vestido um pouco mais alinhado que de costume, até tentava pentear o cabelo com as mãos quando ele passava.
E ele só passava. E ela só olhava.
E ele era um rapaz diferente. Dalila não sabia por que se sentia tão atraída.
Um dia ela resolveu atravessar a rua.
Como sempre, ele apareceu apressado, fez carinho no cachorro, procurou no molho de chaves a correta e fechou o portão.
Dalila, num impulso, resolveu arriscar. Aproximou-se do rapaz e disse olá.
Ele virou o rosto para a menina e disse: Desculpa, não tenho nada.
Ele foi embora. Ela chorou.
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6.5.09
lentes.
É assim. Você abre bem o olho.
Você olha pra cima e põe.
Segura as pálpebras como se fosse uma pinça.
(Tipo laranja-mecânica?)
Eu faço assim ó.
Joga bastante Renu.
Não. Usa só uma mão.
O lado certo fica bem redondinho.
Olha pra lente e aproxima o dedo.
Tira puxando.
Tira por baixo.
Tira pro lado.
Joga Renu.
Uma hora tem que sair.
Você olha pra cima e põe.
Segura as pálpebras como se fosse uma pinça.
(Tipo laranja-mecânica?)
Eu faço assim ó.
Joga bastante Renu.
Não. Usa só uma mão.
O lado certo fica bem redondinho.
Olha pra lente e aproxima o dedo.
Tira puxando.
Tira por baixo.
Tira pro lado.
Joga Renu.
Uma hora tem que sair.
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causos.
3.5.09
sobre a virada.
Não costumo e não gosto de postar imagens aqui, já que este é o espaço para minhas palavras e as imagens vão para o flickr. Esta será a exceção, já que as imagens enriquecem o relato e também porque estão muito feias pro flickr.
Eu não ia pra virada. Minha relação com muvuca é um pouco conturbada e eu fico meio perdida em meio a tanta gente. Mas eu também não queria ficar em casa enquanto o maior evento cultural da cidade (quiçá do país) acontecia.
Pois bem. Liguei pro Possa e eles (com a Gabi e a Marcela) estavam indo para um workshop no Centro de Cultura Judaica. Pareceu interessante.
O CCJ parece uma fortaleza no meio do Sumaré. Detector de metais desses de aeroporto e nenhum contato com a bilheteria. Por dentro, um espaço muito bacana, arquitetura moderninha e tal. Foi a primeira vez que um elevador falou comigo, no CCJ. Queríamos visitar a exposição do 1º andar e, quando entramos no elevador, logo depois de eu falar algo sobre a Cabala e a Madonna, uma voz pergunta aonde estamos indo. Sério, foi surreal.
Já de volta ao térreo (sim, conseguimos visitar a exposição), fomos para o nosso workshop de culinária com o chef Bruno Lerner, cujo tema era “Receitas a base de chá”. Que figura esse chef. Muito bem humorado, ele nos mostrava como preparar uma bebida chamada poção do amor, uma sopa de galinha, um peixe assado e um frango defumado, todos, claro, a base de chá. Eu sei que sou bem chata para comida, principalmente em se falando de oriental, então não vale nada dizer que não gostei do frango (muito shoyu) e do peixe. O chá e a sopa estavam bons, mas então é melhor confiar na opinião dos outros, e eles gostaram muito de tudo. Eu realmente acredito neles.
Workshop com Breno Lerner
Depois fomos ao Tolocos da Augusta para, essa sim minha culinária favorita: a mexicana.
A próxima atração do nosso roteiro era Marcelo Camelo na Av. São João à meia-noite. Quando chegamos, o lugar estava até vazio, mas começou a chegar muita gente. Chegava e passava e gritava e vendia. Entra Marcelo Camelo. Obviamente que do alto dos meus 1,60m eu quase nada vi, mas aproveitei para curtir o som, que do Marcelo é quase hipnótico. Muita gente em volta de mim estava lá sem saber por que estava. Tagarelavam sem parar e nem sabiam quem era o cantor. Agora me diz, por que alguém que nem conhece o cara vai pro meio de uma muvuca ferrada pra ficar parado batendo papo? Quem? Pois é, eles.
Abstraindo-me do entorno, pirei quando ele cantou as músicas do espólio dos Los Hermanos, Pois é, Morena e Além do que se vê.
E avisa que é de se entregar o viver.
Show terminado, eis que descemos (com certa dificuldade) a São João em direção ao palco de dança porque a Gabi queria ver um balé francês com umas camas de pé (xis). Às três, voltaríamos ao palco principal, desta vez bem mais longe do povo, para ver o tributo a Tim Maia. Acontece que queríamos sentar. E, para isso, era preciso abandonar o balé das camas e ir para o palco de dança do Anhangabaú, com cadeirinhas. Esperamos lá a próxima apresentação, que seria às 3 (percebe-se que desistimos do Tim Maia). O espetáculo começa com todo mundo da plateia sendo filmado e mostrado em um telão, com tarjas pretas nos olhos. Depois, umas pessoas que mais pareciam uma mistura de Ets com robôs escandinavos começam a se jogar no chão, uma loucura. Não posso dizer muita coisa, pois primeiro nada sei de dança e segundo porque fiz teatro mais nova e eu fazia uns baratos daqueles.
Meus companheiros de virada.
Enfim, uma dança bem louca, o povo pulando e se jogando no chão, uma menina cantando que nem a Enya e tocando uma Gibson, a plateia sendo filmada e eu tentando entender o significado conotativo daquilo tudo. Eram três e meia da manhã e um cachorro entrou em cena. Ah, bonitinho e tal. Depois, um urso de pelúcia gigante é usado pela dançarina com algum propósito transcendental. Vamos embora.
o urso.
Minha virada acaba com uma menina bulinando um urso de pelúcia e eu penso: estou chata demais pra isso?
Resumindo, gostei da culinária, Pois é me levou às alturas, mas a grande quantidade de pessoas, entre elas muitas mijando, vomitando e gritando me fizeram correr dali, com uma lição aprendida: Virada Cultural? Traga seus DVDs e a pipoca, porque só se for aqui em casa.
Eu não ia pra virada. Minha relação com muvuca é um pouco conturbada e eu fico meio perdida em meio a tanta gente. Mas eu também não queria ficar em casa enquanto o maior evento cultural da cidade (quiçá do país) acontecia.
Pois bem. Liguei pro Possa e eles (com a Gabi e a Marcela) estavam indo para um workshop no Centro de Cultura Judaica. Pareceu interessante.
O CCJ parece uma fortaleza no meio do Sumaré. Detector de metais desses de aeroporto e nenhum contato com a bilheteria. Por dentro, um espaço muito bacana, arquitetura moderninha e tal. Foi a primeira vez que um elevador falou comigo, no CCJ. Queríamos visitar a exposição do 1º andar e, quando entramos no elevador, logo depois de eu falar algo sobre a Cabala e a Madonna, uma voz pergunta aonde estamos indo. Sério, foi surreal.
Já de volta ao térreo (sim, conseguimos visitar a exposição), fomos para o nosso workshop de culinária com o chef Bruno Lerner, cujo tema era “Receitas a base de chá”. Que figura esse chef. Muito bem humorado, ele nos mostrava como preparar uma bebida chamada poção do amor, uma sopa de galinha, um peixe assado e um frango defumado, todos, claro, a base de chá. Eu sei que sou bem chata para comida, principalmente em se falando de oriental, então não vale nada dizer que não gostei do frango (muito shoyu) e do peixe. O chá e a sopa estavam bons, mas então é melhor confiar na opinião dos outros, e eles gostaram muito de tudo. Eu realmente acredito neles.
Workshop com Breno Lerner
Depois fomos ao Tolocos da Augusta para, essa sim minha culinária favorita: a mexicana.
A próxima atração do nosso roteiro era Marcelo Camelo na Av. São João à meia-noite. Quando chegamos, o lugar estava até vazio, mas começou a chegar muita gente. Chegava e passava e gritava e vendia. Entra Marcelo Camelo. Obviamente que do alto dos meus 1,60m eu quase nada vi, mas aproveitei para curtir o som, que do Marcelo é quase hipnótico. Muita gente em volta de mim estava lá sem saber por que estava. Tagarelavam sem parar e nem sabiam quem era o cantor. Agora me diz, por que alguém que nem conhece o cara vai pro meio de uma muvuca ferrada pra ficar parado batendo papo? Quem? Pois é, eles.
Abstraindo-me do entorno, pirei quando ele cantou as músicas do espólio dos Los Hermanos, Pois é, Morena e Além do que se vê.
E avisa que é de se entregar o viver.
Show terminado, eis que descemos (com certa dificuldade) a São João em direção ao palco de dança porque a Gabi queria ver um balé francês com umas camas de pé (xis). Às três, voltaríamos ao palco principal, desta vez bem mais longe do povo, para ver o tributo a Tim Maia. Acontece que queríamos sentar. E, para isso, era preciso abandonar o balé das camas e ir para o palco de dança do Anhangabaú, com cadeirinhas. Esperamos lá a próxima apresentação, que seria às 3 (percebe-se que desistimos do Tim Maia). O espetáculo começa com todo mundo da plateia sendo filmado e mostrado em um telão, com tarjas pretas nos olhos. Depois, umas pessoas que mais pareciam uma mistura de Ets com robôs escandinavos começam a se jogar no chão, uma loucura. Não posso dizer muita coisa, pois primeiro nada sei de dança e segundo porque fiz teatro mais nova e eu fazia uns baratos daqueles.
Meus companheiros de virada.
Enfim, uma dança bem louca, o povo pulando e se jogando no chão, uma menina cantando que nem a Enya e tocando uma Gibson, a plateia sendo filmada e eu tentando entender o significado conotativo daquilo tudo. Eram três e meia da manhã e um cachorro entrou em cena. Ah, bonitinho e tal. Depois, um urso de pelúcia gigante é usado pela dançarina com algum propósito transcendental. Vamos embora.
o urso.
Minha virada acaba com uma menina bulinando um urso de pelúcia e eu penso: estou chata demais pra isso?
Resumindo, gostei da culinária, Pois é me levou às alturas, mas a grande quantidade de pessoas, entre elas muitas mijando, vomitando e gritando me fizeram correr dali, com uma lição aprendida: Virada Cultural? Traga seus DVDs e a pipoca, porque só se for aqui em casa.
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1.5.09
Atos
Ato 1
Jardim. Noite. Música. Dança.
Jurupinga.
Risadas.
Amnésia.
Ousadia.
Abandono.
Padaria.
Ato 2
Rua. Noite. Buzinas.
Starbucks.
Cinema.
Filme.
Não-filme.
Ponto.
Ato 3
Rua. Noite. Anos 80.
Carro.
Rádio.
Mão.
Rua.
Ato 4
Jardim. Noite. Música.
Conversa.
Bolsas.
Árvore.
Banco.
Ônibus.
Ponto.
Ato 5
Apartamento. Noite. Woody Allen.
Pipoca.
Licor.
Sofá.
Filme.
Licor.
Carona.
Campainha.
Sofá.
Ato 6
Festa. Noite. Música. Dança.
Conversa.
Álcool.
Parede.
Abandono.
Ato 7
Festa. Noite. Música. Dança
Braço.
Mentira.
Ato 8
Festa. Noite. Música. Dança.
Olhos.
Parede.
Red Bull.
Escadas.
Risadas.
Manhã.
Ato 9
Dia. Tarde. Noite.
Descanso.
Jardim. Noite. Música. Dança.
Jurupinga.
Risadas.
Amnésia.
Ousadia.
Abandono.
Padaria.
Ato 2
Rua. Noite. Buzinas.
Starbucks.
Cinema.
Filme.
Não-filme.
Ponto.
Ato 3
Rua. Noite. Anos 80.
Carro.
Rádio.
Mão.
Rua.
Ato 4
Jardim. Noite. Música.
Conversa.
Bolsas.
Árvore.
Banco.
Ônibus.
Ponto.
Ato 5
Apartamento. Noite. Woody Allen.
Pipoca.
Licor.
Sofá.
Filme.
Licor.
Carona.
Campainha.
Sofá.
Ato 6
Festa. Noite. Música. Dança.
Conversa.
Álcool.
Parede.
Abandono.
Ato 7
Festa. Noite. Música. Dança
Braço.
Mentira.
Ato 8
Festa. Noite. Música. Dança.
Olhos.
Parede.
Red Bull.
Escadas.
Risadas.
Manhã.
Ato 9
Dia. Tarde. Noite.
Descanso.
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