Maria, este era o nome por falta de nomes.
Maria entrou na sala que era sua mente. Ouvira dizer que a cabeça da gente é como um grande cômodo de uma casa, em que a gente vai acumulando livros, filmes, diários, quadros, pessoas, revistas, paisagens, animais... E que é preciso saber muito bem como organizar a coisa toda, senão pode-se ficar perdido em pilhas e pilhas de informação.
No fundo da sala, uma grande lareira ardia intensamente. Suas chamas consumiam até o teto e enegreciam as paredes de tijolos. Todos os dias, Maria retirava da pilha de coisas um punhado de revistas de fofoca, algumas planilhas de excel e uma grande, uma gigante quantidade de CDs e fitas de vídeo.
No entanto, Maria sabia que nem tudo queima à mesma velocidade. Na grande fogueira do fundo da sala, ainda ardiam lembranças desagradáveis de quinze ou dez anos atrás. Mesmo que restasse apenas carcaça, elas ainda estavam lá, vivas. E Maria sabia disso. E agora que já se passaram quase trinta anos, ela nem se importava mais, esperava calmamente a completa consumação das sobras de seu passado com as quais aprendera a conviver.
De resto (se podia chamar aquela mostruosidade de resto), a sala tinha inúmeras galerias que se mostravam a medida que andava. Algumas ficaram esquecidas no tempo e, quando se abriam de repente, Maria esboçava diferentes reações: susto, surpresa, alegria, ódio...
Havia as salas favoritas, aquelas que Maria passava horas e horas, deitada no tapete felpudo de pele (falsa) de carneiro e absorta nas pilhas gigantescas de informação.
E, antes que as pilhas caíssem sobre sua cabeça e o chão se abrisse e ela ficasse sufocada, Maria fazia o que mais gostava: sair da sala.
Um comentário:
Saudades imensas suas Thá !
se cuida !
bjinhu
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