Eu queria que chovesse mesmo. É isso aí.
Queria que a água escorresse por entre os tijolos sujos desta cidade.
Queria que houvesse o espelho. Todas as luzes refletidas no asfalto.
Isso me lembra os quatorze. Seis da tarde, minha mãe traz pão quente pra gente comer com manteiga. Meu pai chega e conversa sobre os problemas na cozinha. Vinicius quer arroz e bife. Victor vai ver tevê no quarto. Leio Capricho na sala. Todo mundo falando alto. Tá chovendo lá fora e eu vestindo pijama. Quem diria que estaria aqui agora? Minhas preocupações limitavam-se a como conquistar o gatinho dos meus sonhos e quando tocaria minha música favorita na rádio. Vez ou outra, pensar em coisas profundas, mas tão superficialmente quanto uma poça d'água.
O que quer que tenha acontecido comigo oito anos depois, acho que não conseguiu apagar o sentimento dos dias frios e chuvosos. O pensamento de uma garota que nem sempre está preparada para atender o telefone e ter que resolver problemas. Que nem sempre acha fácil encarar uma casa vazia quando abre a porta. Que às vezes só queria ver Sessão da Tarde e fazer brigadeiro de panela.
Não espero mais minha música no rádio, hoje há o Itunes Shuffle. Capricho fala de bandas que não conheço e de meninos demasiadamente novos. Meu núcleo familiar desmanchara-se como massa de pastel.
E chove. A chuva persiste.
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