26.8.08

E ela achava que aqueles eram seus amigos. Achava mesmo, acreditava com todas as forças.
Mas quando percebeu que sua presença era tão necessária quanto a de um papel amassado, ela calou-se. Calou-se e foi embora, cabeça baixa.
Tentou imaginar o que fizera de tão errado. O que em seu comportamento provocara aquilo. Já havia sentido outras vezes, esse distanciamento gradual, esses olhares que não conseguia descrever (invejosos? indiferentes?).
Seria mais uma daquelas fases, em que as pessoas te conhecem demais para gostar de você?

4.8.08

parte 1.

Acordou. Não lembrava quem era.
Os raios de sol iluminavam o abajur e davam vida à famosa dança do pó que ela gostava tanto aos sete. O relógio vermelho tiquetaqueava.
Não havia sinal de luta no quarto. Checou os braços e as pernas, estavam ok. Levantou-se, não antes de piscar fundo duas vezes, e encaminhou-se para o espelho. O rosto e as costas estavam limpos também. Passou a mão delicadamente atrás da nuca e sentiu pequena dor. "Não mais do que em treze de abril, suponho". Pés descalços a levaram para a sala. Olhou para os lados e localizou a arma em cima do sofá. "Está bem".
Quando criança dançava em cima dos pés do pai. Ele a levava de um lado para outro da cozinha enquanto ouviam Don McLean. O sabor da comida invadia sua boca através do nariz e tinha gosto de domingo. A mãe entrava pela porta e, recostada no batente, ria ao enxugar as mãos do lavar-roupas.
O café amargo do dia anterior, "não, é mais velho", tinha gosto de plástico. Pensou em preparar mais, porém desanimou. Abriu a torneira da pia e encheu um copo. Jogou açucar e bebeu. Não era maravilhoso mas era doce. A falta de glicose transcendia o físico.
Com quinze dera o primeiro beijo. Bolhas coloridas brincavam no ar. Num domingo, na praça, durante a missa. Na missa que deixara de lado para ouvir seu discman. E foi ali, ao lado do coreto, na hora de Laura Pausini, que ele surgiu. "Por que saiu?" perguntou ele. "Porque quero ver a grama e o sol e porque quero vê-los juntos". Beijou-a. Riu. E ela riu olhando para baixo.
Digitou alguns números e aguardou. "Sim, está feito... não, não vi". Ligou a tevê e confirmou "Estou vendo. Melhor ir embora". Desligou o telefone e olhou para o relógio da sala. Pegou a arma do sofá e a limpou em sua blusa.
Já não sabia mais o que era certo ou errado. "Você não pode beber assim, amanhã temos prova". Era realmente feio para um garota encher a cara, e concordou. Já não tinha mais o frescor da ingenuidade em seus atos. Fechou a conta e se retirou da mesa. Olhou para a amiga e a odiou por dois segundos. Mas a outra estava certa. "Vamos embora".
No chão da porta de entrada repousavam as letras de sua mãe. Achou graça da precupação e guardou o papel no bolso. Olhou para o corredor. A vizinha ouvia Don McLean. Quis permanecer ali, imóvel. Seu coração encheu-se de dor e então virou-se. Foi para a janela e se acalmou. O sol brilhava como nunca e tingia de verde as copas das árvores. Quis dançar. No entanto, olhou para os pés, foi até o sofá e guardou a arma na cintura. Fechou a porta e, sentando-se na cadeira ao lado, tapou os ouvidos e fechou os olhos.

julho.

Ouvir músicas em francês realmente me faz sentir legal.

Mas legal mesmo foi esse mês. Como dar os primeiros passos, pôr ordem na casa, ver quase todos os filmes do Cinemark (o melhor - Why so serious?), tirar foto de mãozinha dadas com o Wall-E, saídas fotográficas... e, claro, sentir a vida olhando para mim com seus olhos verdes.

The beginning of something bigger. Or, better, "the commencement of a very rigid search".